segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Presépio voador


Esse cartão de natal que eu recebi do Wagner Passos por e-mail é muito fofo! Aproveito e compartilho o trabalho desse artista - e os votos positivos para o ano-novo - com todos vocês! Feliz Natal! Feliz 2009! :)

Eu fui!


Dá-lhe Gabirutaaa! Tu é show!
Não sei como estava a janta porque precisei sair antes, mas o documentário ficou 10!!!

A propósito, a Karina e eu adoramos as partes em que aparecem dois quadros de imagens. Eu já disse isso antes?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Hora do Almoço

No centro da sala,
diante da mesa,
no fundo do prato,
comida e tristeza.
A gente se olha,
se toca e se cala
E se desentende
no instante em que fala.

Cada um guarda mais o seu segredo,
sua mão fechada
sua boca aberta
seu peito deserto,
sua mão parada,
lacrada,
selada,
molhada de medo.

Pai na cabeceira: É hora do almoço.
Minha mãe me chama: É hora do almoço.
Minha irmã mais nova, negra cabeleira...
Minha avó me chama: É hora do almoço.

... E eu inda sou bem moço
pra tanta tristeza.
Deixemos de coisas,
cuidemos da vida,
senão chega a morte
ou coisa parecida,
e nos arrasta moço
sem ter visto a vida
ou coisa parecida aparecida


(Belchior)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Meu tempo é quando

Poética nº 1

De manhã escureço, de dia tardo, de tarde anoiteço, de noite ardo.
A oeste a morte, contra quem vivo, do sul cativo, o este é meu norte.

Outros que contem, passo por passo:

Eu morro ontem, nasço amanhã, ando onde há espaço

Meu tempo é quando.


(Vinicius de Moraes)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sueños

Cuando la noche se acerca
hay algo en mi alma que vuelve a vibrar
con la luz de las estrellas
en mis sentimientos te vuelvo a encontrar

Quiero que me mires a los ojos
y que no preguntes nada más
quiero que esta noche sueltes
toda esa alegría que ya no puedes guardar.

Paso las horas fumando
oyendo en el viento la misma canción
porque el tiempo que vale
lo marca el latido de mi corazón

Quiero que me mires a los ojos
y que no preguntes nada más
quiero que esta noche sueltes toda esa alegría
que ya no puedes guardar

Deja que tus sueños sean olas que se van
libres como el viento en mitad del mar
creo que la vida es un tesoro sin igual
de los buenos tiempos siempre quiero más

Soy como el agua del río
y por el camino me dejo llevar
porque aprendí que la vida
por todo lo malo algo bueno te da

Quiero que me mires a los ojos
y que no preguntes nada mas
quiero que esta noche sueltes toda esa alegría
que ya no puedes guardar

Deja que tus sueños sean olas que se van
libres como el viento en mitad del mar
creo que la vida es un tesoro sin igual
de los buenos tiempos siempre quiero más.

Deja que tus sueños sean olas que se van...
creo que la vida es un tesoro sin igual
me dejo llevar...



(Cachorro López - Sebástian Schon - Diego Torres)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

BANCA

Amigos!

Antes do convite de formatura, um convite para assistirem eu passar pelo último obstáculo que me separa do diploma:

Defenderei meu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso - na próxima segunda-feira, dia 1°, às 20h30 no Campus II da UCPel.

A apresentação será aberta e terá na banca os professores Sadi Sapper (orientador), Jairo Sanguiné Júnior e Antônio Heberlê (avaliadores).

O título do trabalho é O PÚBLICO E A IMPRENSA EM BALSAS/MA - RELAÇÃO DE FUNÇÃO E FUNCIONALIDADE.

Grande abraço!

Bianca

A Máquina

Filme nacional, filme de nordestino. Eita sotaquesinho véio da gota... Até deu saudade daquele povo esquisito vendo A Máquina.

A Mariana Ximenes cantando naquela cena mal feita dela andando de bicicleta ergométrica, enquanto o cenário se mexia não precisava. Mas a história é muito legal! A atuação do Paulo Autran no hospício é emocionante...


Várias reflexões "tempo-espaciais" e diálogos incríveis, que até me dá vontade de assistir de novo para anotar as "citações de efeito"...

Brincadeiras com as palavras... alguém mais aí sabe "desmultiplicar"?
"Triste é a cidade que não serve nem para a sua única função..." (que é ser um lugar para seus habitantes habitarem).
Algumas definições muito interessantes também! Trocadilhos legais, sobre por exemplo as historinhas e os anúncios na televisão... E a banda "The Sconhecidos". Boa... :)

A produção, o estilo do cenário, lembra uma mistura de Dogville com a série global Hoje é dia de Maria.

Também assisti com a Aline e com a Karina.

Muito legal!!!

sábado, 22 de novembro de 2008

O peso da água

O peso da água reúne duas histórias de ciúme e traição em família separadas por mais de um século.

É um filme perverso, que reúne casos homo, ménage à trois, incesto... Não sei se o que me chocou mais foram os golpes frios e precisos de machado ou o paninho da manteiga tapando o rosto da defunta, enquanto a assassina tomava chá. Ah, a inconveniência da cunhada também é algo...


Já que o propósito de um suspense é realmente abalar os espectadores, e considerando que eu fiquei transtornada por mais de 24h sob efeitos da sessão em casa (assisti com a Aline e com a Karina na primeira semana praticamente de férias, antes da apresentação do TCC) , acho que o filme é realmente muito bom.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Fim

É estranho quando chega ao fim.
É a incerteza de tudo o que se disse antes do ponto final.
É a saudade de tudo o que aconteceu antes.
É a despedida.

Acabou.
Eu queria tanto...
E eu que já estava de saco cheio...
Hoje estou nostálgica.

Entreguei o TCC. (Aleluia!)
Alívio.
Entreguei os livros na biblioteca, paguei uma pequena multa.
Dei tchau para o meu orientador, de quem eu tanto reclamei por ser "relapso"...
Até ele me emocionou. Sim, foi uma honra tê-lo como professor.
Eu não estava eufórica como os outros.
Estava alheia, queria ficar em silêncio.

Fui no supermercado comprar algo pra comer
Começou a chover quando eu voltava pra casa
E eu pensei naquela música...
Enquanto prestava atenção no momento, caminhava devagar

E a vida continua, daqui para a frente.

Música-que-eu-não-sei-o-nome

Hoje eu nem saí pra rua
Nem olhei pro sol
Hoje preferi a lua
E nem li o jornal

Hoje nem pensei no amor
E nem quis te gostar
Hoje até suportei a dor
A dor de te amar

Tanta gente à minha volta
Que nem deu pra notar
Hoje eu estou tão só
Que é melhor nem falar

Hoje a rua está tão deserta
Como o meu coração
As folhas caem sem muita pressa
Como a solidão

Hoje, agora, nesse momento
Começa a chover
E eu aqui nesse apartamento
Só pensando em você

Tanta gente à minha volta
E nem deu pra notar
Hoje eu estou tão só
E é melhor nem falar...


(Não sei o título dessa música, nem o autor.
Se alguém souber, por favor, me diga para que eu possa dar os devidos créditos!)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Conto da Ilha Desconhecida

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."

"... o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcançá-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo."

"As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervo, E as costuras são como os nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, contente por estar a aprender tão depressa a arte da marinharia."

"Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nomem que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma."




Em breve comentário sobre este livro.

sábado, 15 de novembro de 2008

Os Mosconautas no Mundo da Lua

Resolvi passar a tarde com meus "sobrinhos emprestados". Uma agradável tarde na companhia de quatro crianças. Sempre gostei dessa convivência e como uma "tia camarada" fui procurar um programa legal para fazer.

Fiquei sabendo de um filme 3D que estava em cartaz no cinema. Nunca havia visto um filme com esse tipo de "efeitos especiais" e achei que a idéia dos óculos coloridos fosse atrair a atenção dos pequenos.

E atraiu. Eles adoraram a tarde, comeram muita pipoca, sorvete e tomaram refrigerante até cansar. Quer dizer, sair com a tia tem limites, mas convenhamos, estes limites são beeeem mais flexíveis que os impostos por pai e mãe.

Até aí tudo bem, eu também gostei do passeio, mas não posso deixar de fazer um comentário crítico sobre esse filme "bucha" para que outros tios e tias bem-intensionados não cometam o mesmo erro que eu.

Sim, o filme é uma droga.
Quanto ao 3D, não notei grande diferença. O óculos é incômodo, não se adapta nem ao rosto infantil e nem ao rosto dos adultos. Em pouco tempo deixa a vista cansada. Me deu dor de cabeça. Em poucas cenas foi possível notar alguma diferença, e - forçando - achar "bacana" o tal efeito. Aqui e ali uma mosquinha parecia estar alguns centímetros fora da tela, e em uma seqüência de vôo a sensação é bem realista. O suficiente para fazer as crianças darem gritos (o que não precisa muito) e pra me deixar nauseada (pra isso já precisa bem mais, porque não costumo ser hipersensível a esse tipo de emoção).

O pior é que sem óculos não dá para ver, porque a imagem fica com vários "fantasmas", dividida em várias camadas de cores desencontradas. Se bem que, de óculos, eu as enxergava igualmente fora de foco.

A história se passa na forma narrativa de uma corrida espacial paralela, redimensionada para o mundo das moscas. Astronautas americanos e soviéticos travam a sua batalha em escala humana, e as moscas americanas e soviéticas concorrem proporcionalmente pelo mesmo sentido. As moscas americanas - fofinhas, bonitinhas e inteligentes - conseguem pegar carona na Apolo 11, enquanto as soviéticas - feias e burras - querem sabotar a nave e impedí-las de retornar em segurança.

Longe de ser uma animação como várias outras de uma boa safra, engraçadas e divertidas para todas as idades, Mosconautas beira o tédio, com algumas picadas aqui e ali, não muito boas, e que ficam ainda piores no contexto todo da trama medíocre.

Como pano de fundo, traz a velha e manjada mensagem do "acreditem nos seus sonhos", que faz bem o tipinho do herói americano.

Os estereótipos, que por si só já são irritantes, ficam ainda mais porque são estereotipados ao extremo. Apesar disso, a tradução do título do filme é irônica, já que "cosmonauta" era a denominação que os russos utilizavam para os seus viajantes espaciais...


Avaliação: muito ruim


Ficha Técnica

Título Original: Fly me to the moon 3D
Local/Ano: Bélgica, 2008
Gênero: Aventura, Animação
Duração: 84 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Distribuidora: Playarte
Produtora: nWave Pictures, Illuminata Pictures
Diretor: Ben Stassen
Roteirista: Domonic Paris


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

TCC tccido!

00:12. Esse foi o horário exato da minha última atualização no arquivo "TCC". Foi o exato momento em que coloquei o ponto final - quer dizer, o ponto de interrogação final - nas minhas considerações finais nada conclusivas.

Ok, não cumpri a meta de terminar o trabalho no domingo, mas a minha contagem de tempo considera que, como ainda não dormi, apesar de já ter passado da meia-noite, ainda é domingo. E amanhã vai ser, certamente, uma segunda-feira diferente. Vai ser um dia sem culpa. Culpa de estar fazendo qualquer coisa que não seja: terminar o TCC.

Não fiz o melhor trabalho que poderia ter feito, já diz na minha dedicatória, mas fiz o melhor que poderia fazer nas condições que eu tive. A meta inalcançada, entretanto, foi importante para motivar minha tentativa. Uma meta utópica para um resultado realista. Como a tal da imparcialidade jornalística...

Hoje dormi praticamente o dia todo. Só fui abrir o Word para continuar, ou melhor, terminar o que comecei há uns cinco meses (mais efetivamente nos últimos dois meses) quando já caía a noite. Normal. Auto-sabotagem. Me boicotei o dia inteiro. Acho que meu subconsciente estava com medo do vazio que sinto agora. Eu não tenho mais que fazer o TCC.

Tá, falta revisar, reler, modificar, corrigir, apresentar... Mas está feito. E isso já é o suficiente para provocar uma estranha sensação de dever cumprido. De folga. De descanço.

Pronto. Já não tenho mais dor de cabeça, dor nas costas, dor de ouvido. Acabou o TCC, acabaram os problemas, até o próximo grande desafio.

Dei trabalho para muita gente. Para a minha mãe que aplicou a pesquisa, por exemplo. Agora é mais para a Ana Band, que está formatando todas as páginas do monstro que eu criei, e já passam de 80, segundo ela...

Obrigada! Vou dormir!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Namastê

domingo, 2 de novembro de 2008

Momentos que são meus...

... e que não abro mão...

De repente, uma melodia conhecida.
Não, não essa. Outra. Mas significativa.
Seria coincidência? Não.
Há quanto tempo já deixastes de acreditar no acaso?
Há quanto tempo não páras para contemplar a vida?
Pensei. Não faz tanto tempo. Mas sempre é bom, e cada momento é único.
A melodia...
O som do chafariz, as bolhas de sabão refletindo toda a felicidade que existe no ar.
Todas aquelas pessoas estavam mesmo felizes ou era a minha felicidade que eu enxergava ao redor?
Será que viam o quanto eu estava feliz? Ou meu sentimento é transparente?
O fato é que eu já estava irremediavelmente tentada a permanecer ali,
Embora o plano inicial fosse ir pra casa.
Gosto de imprevistos no meio do caminho, ainda mais assim, tão agradáveis.
Sozinha, eu e a música. A primeira, a segunda, uma próxima... até o bis.
De repente, um show inteiro, uma vida inteira em flash back.
Cada música contava uma história. Quem foi que escolheu esse repertório???
Aquele repertório era meu, eu não duvidava. E todas as músicas eram para mim.
Quanto tempo permaneci ali? O tempo de meio sanduíche natural, uma Coca-Cola Zero e,
- o mais importante -
uma porção de morangos com chantily.
Todos os sentidos convergiam para uma felicidade plena.
E ainda estou confuso, só que agora é diferente
Estou tão tranqüilo e tão contente...
Além da música, do sabor de morangos e chantily, o riso das crianças, o sol da tardezinha e o vento suave varrendo as folhas do chão. Tudo tão piegas, mas ainda assim tão verdadeiro.
Tarde perfeita. Dia perfeito. Noite perfeita.
Bom seria se todos os domingos fossem assim... Domingos de Feira do Livro!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Daquilo que eu sei

Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza...

Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido...

Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu!
Usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!


(Ivan Lins)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Relógio

Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia

(Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Fluxo e Contra-fluxo


Publicado originalmente em: http://rafaelsica.zip.net/

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Os velhinhos da calçada

A gente tem certeza que o verão chegou quando volta a ver os velhinhos na calçada. Ao lado de onde eu moro, moram vários. Me ocorre agora que talvez eles sempre estejam ali, mas que no inverno eu não possa vê-los, quando chego em casa já de noite. Como é bom reencontrá-los nos fins de tarde, no ritual diário do chimarrão, cumprimentá-los e receber em troca um sorriso gentil. Como são felizes os fins de tarde de verão em que posso sair do trabalho e encontrar no caminho as árvores da ladeira da rua Princesa Isabel...
Bom mesmo é sair de casa de tênis e mangas curtas, levando apenas a chave e o celular na mão. A chave para poder voltar para casa quando quiser, e o celular... pra quê?

sábado, 18 de outubro de 2008

O tempo e o elefante

"Aprendeu a conviver com a verdade. Não a aceitá-la, mas a conviver com ela. Era como viver com um elefante. O quarto era pequeno, e toda manhã ele tinha de se espremer em torno da verdade para chegar ao banheiro. Para alcançar o armário e pegar uma cueca, tinha de engatinhar sob a verdade, rezando para que ela não escolhesse aquele momento para sentar-se sobre o seu rosto. À noite, quando fechava os olhos, ele a sentia assomar acima dele."

(Nicole Krauss, A história do Amor)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Torcida

'Mesmo antes de nascer,

já tinha alguém torcendo por você.


Tinha gente que torcia para você ser menino.

Outros torciam para você ser menina.

Torciam para você puxar a beleza da mãe,

o bom humor do pai.

Estavam torcendo para você nascer perfeito.



Daí continuaram torcendo.

Torceram pelo seu primeiro sorriso, pela
primeira palavra , pelo primeiro passo.

O seu primeiro dia de escola foi a maior torcida.

E de tanto torcerem por você,

você aprendeu a torcer.

Começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar Papai Noel.

Torcia o nariz para o quiabo e a escarola.

Mas torcia por hambúrguer e refrigerante.



Começou a torcer até para um time.

Provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente

que torce diferente de você.

Seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho,

escovar os dentes, estudar inglês e piano.

Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana.



Seus amigos torciam para você usar brinco,

cabular aula, falar palavrão.

Eles também estavam torcendo para você ser bacana.

Nessas horas, você só torcia para não ter nascido.

E por não saber pelo que você torcia, torcia torcido.

Torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir.



E quando os hormônios começaram a torcer,

torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso.

Depois começou a torcer pela sua liberdade.

Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua.

Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa.

Passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as idéias dos
professores e para qualquer opinião dos seus pais..

Todo mundo queria era torcer o seu pescoço.

Foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro.

Torceu para ser médico, músico, advogado.

Na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol.

Seus pais torciam para passar logo essa fase.

No dia do vestibular, uma grande torcida se formou. Pais, avós,

vizinhos, namoradas e todos os santos torceram por você.



Na faculdade, então, era torcida pra todo lado. Para a direita, esquerda,

contra a corrupção, a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina.

E, de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo de tanto olhar para ela.



Primeiro, torceu para ela não ter outro.

Torceu para ela não te achar muito baixo, muito alto, muito gordo, muito magro.

Descobriu que ela torcia igual a você.

E de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho.



Torceram para ganhar a geladeira, o microondas e a grana para a viagem de lua-de-mel. E daí pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida.


Porque, mesmo antes do seu filho nascer, já tinha muita gente

torcendo por ele.

Mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda

não tenha conquistado algumas coisas.

Mas muita gente ainda torce por você!

Se procurar bem você acaba encontrando.

Não a explicação (duvidosa), mas a poesia (inexplicável) da vida.'

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Da cólera ao silêncio

"(...) Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta (...)" Caio Fernando Abreu

Palavras

A obra convence pelos fragmentos, ninguém a lê por inteira.
Vou começar e concluir a leitura em ti, minha mulher. És a página que dobrei para retornar; o manuscrito que nunca acordei de completo.
As palavras, como pêras, perecem ao toque. E é tarde para não mastigá-las. Palavras e palavras, destruíram as que me dariam significado.
Mudei de endereço e nenhum sinônimo me localiza.

(Fabrício Carpinejar, citado por Felipe Pena no livro Teoria do Jornalismo)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pausa

Toda sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica.
Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.

Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.

A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de "pausa" é preenchido por diversão e alienação.
Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos.

A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.

Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim.

Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.

Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.

As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo.

Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.

As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias e o domingo de um feriado.

Nossas(os) namoradas(os) querem "ficar", trocando o "ser" pelo "estar".

Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.

Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos.

Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.

A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é: o que vamos fazer hoje? Já marcada pela ansiedade.
E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande "radical livre" que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

(Do Rabino Nilton Bonder - o conheço, é jovem e surfista, apenas para saberem)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

No necesito nada

Acostumbrado, equivocado
no veo el cielo, está nublado
apareciste sin que te buscara nadie, no esperaba encontrarte ahí
tal vez tu risa no tenía sombras, no tenía cara
fue todo lo que ví
me prestaste un beso
me prestaste calma
me prestaste todo lo que me faltaba
tenés la receta justa para hacerme sonreir
y todo el tiempo
sabés lo que me asusta
sabés lo que me gusta estar con vos
me robaste el cuerpo
me robaste el alma
ya es tuya la voz con la que antes cantaba
me quitás el sueño
me quitás el habla
pero si estoy con vos no necesito nada

na na na na... nada
na na na na... nada
(no necesito nada)


(No Te Va Gustar)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Jornais

Quantos filhos esperaram a chegada de seus pais
Tantos deles não vieram Não chegaram nunca
A calçada não é casa, não é lar Não é nada
Nada mais do que um caminho que se passa
Tão estranho pra quem fica... pra quem fica
As palavras no asfalto, nessa vida são tão duras
O carinho não consola mas apenas alivia
A calçada não é cama Não é berço Não é nada
Nada mais nos faz humanos sem afeto
E o medo é um abraço tão distante de quem fica

Onde vai? Nós estamos de passagem
Onde vai? Onde a rua nos abriga
Onde vai? Estamos sempre de partida
Onde vai? Onde a rua nos abriga desse frio

As pessoas que se enrolam nos jornais não são mais notícia
Elas não esperam de um papel de duas cores mais que um pouco decalor
A calçada não é pai Não é mãe Não é nada
Nada mais do que um abrigo, um refúgio
Tão estranho pra quem passa... Pra quem passa


(Thedy Corrêa)

domingo, 21 de setembro de 2008

Casa

Casa, para mim, tem janela aberta por onde entra o sol.
tem cheiro de café passado,
e mate quente de manhã cedo.
(e depois do almoço, e à tardinha, e de noite).
tem um pouco de coisas espalhadas por todos os lados, em uma bagunça que todos os dias se arruma e se refaz.
tem muita coisa nas paredes, tem muita recordação de vida vivida.
tem muita coisa que a um primeiro olhar não combina com nada, e nenhuma mão de decorador seria capaz de fazer.
tem cheiro de incenso de baunilha.
e tem o tamanho exato para caber em uma mochila e levar nas costas por onde quer que eu vá.

(Ascendente em Câncer, Lua em Sargitário - Isabel Nogueira)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A pedidos... Bernadete!

Não sei porque
Fui casar com Bernadete
Essa mulher
Gruda em mim
Que nem chiclete
Eu contratei
Os serviços de um pivete
Para matá-la
A golpes de canivete
Se não morrer,
Retalha ela com gilete
Ela foi para o hospital
O nariz e um olho
Ela perdeu
Mas não sei como é que pode
A desgraçada não morreu

Ai! Jesus que maldição
Essa tal de Bernadete
Ela só tem uma vida
Mas parece que tem sete

Eu percebi
Que outro nisso
Não se mete
Assim que deu
A esmaguei com meu Chevette
E aluguei
Apartamento em um flat
Comprei champanhe
Bebi inteiro (?)
Agora sim ela virou um omelete
O outro olho
Os braço e as perna ela perdeu
Mas a maldita criatura
De novo sobreviveu

Ai! Jesus ....

(3° e último ato)
Envenenei
O seu prato de espaguete
Pus querosene
Em seu molho vinagrete
E enfiei
No seu ouvido um cotonete
Cheio de ácido
Pra ver se o cérebro derrete
Então fugi (?)
Em minha mobilete
Bastou uma operação
E uma lavagem estomacal
E então me convenci
De que esta praga é imortal

Ai Jesus ...


(Guilherme Bulla)


P.S.: Tem algumas partes da letra (?) que não consegui identificar apenas ouvindo a música. Se alguém souber as palavras que completam os versos, ou se houver alguma correção a fazer, por favor, envie um comentário!

P.S.2: Pra ti, maninho! hehehehe

P.S.3: Veja o vídeo aqui!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Meu mundo e nada mais

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...


(Guilherme Arantes)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Clichê

Luz e sorriso, doce de amor
Musa do meu feitiço
Como te explicar?
Caso perdido, raso clichê
Sangue do meu suplício
Quem vai te entender?
Corres da minha porta
Somes da minha rua
Mas estás sempre pronta pra mim
Juras que não suportas
Cospes na minha cara
Mas estás sempre nua no fim

Dona da vida, tudo de bom
Dom do meu paraíso
Como te perder?
Bruxa cambota, bicho do mal
Eu que invoquei teu vício
Quem vai te curar?
Corres da minha porta
Somes da minha rua
Mas estás sempre pronta pra mim
Juras que não suportas
Cospes na minha cara
Mas estás sempre nua no fim


(Nei Lisboa)

Sobre eu e você (efeitos colaterais)

De novo eu, de novo você
É estranho e engraçado como as coisas acontecem entre nós
Você pediu que eu fizesse os textos das fotos
Pois então aqui vai um comentário sobre o nosso auto-retrato

Você me diz tantas coisas
E a maioria delas eu já sei
Sim, é insano eu não prestar atenção
Nos efeitos colaterais dessas sensações que você me faz experimentar
Mas é que isso já faz parte de mim há tanto tempo
Que eu acho que nem saberia mais viver sem

Você é tão bom
E não me dá motivos pra te odiar
Motivos pra me afastar
Motivos pra não te querer
Sua verdade não é a que eu queria ouvir
Mas é tão sincera que eu insisto em duvidar
E acredito que é apenas uma confusão
Porque é isso que me faz esperar que um dia
Possa mudar de idéia

Eu só quero que saiba
Que se me arrisco tanto
É porque eu quero que saiba
Que tudo o que eu queria era ser a pessoa
Ao lado de quem você desejasse acordar
Não posso evitar sentir raiva de quem conseguiu isso
e não soube aproveitar
Não posso evitar querer encontrar as senhas
Que eu não tenho pra te conquistar
E apesar de todas as coisas que eu sou capaz e faço bem
- Qualidades que você faz questão de enumerar
Pra dizer que eu mereço "alguém melhor" -
O que me faz sentir pior é a falta de uma só:
É não ser capaz de fazer você gostar de mim
Como eu gosto

P.S.: não precisa ter medo de mim e nem do que eu escrevo. Primeiro porque vou procurar não fazer mais "isso", segundo porque escrever é o que eu faço de melhor, segundo você mesmo...

domingo, 7 de setembro de 2008

Um homem chamado Alfredo

O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Abriu o gás, o coitado
O último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação

Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar
Quase nada
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada

Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom
Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê


(Vinicius de Moraes / Toquinho)

domingo, 31 de agosto de 2008

Telhados de Paris

Venta
Ali se vê
Onde o arvoredo inventa um ballet
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoas, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado e mais parece outro país
Que me estranha mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito

O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
E de versos retos, corretos
O resto da paixão, reguei
Vai servir pra nós
O doce da loucura é teu, é meu
Pra usar à sós
Eu tenho os olhos doidos, doidos, já vi
Meus olhos doidos, doidos, são doidos por ti

(Nei Lisboa)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Confissão

Páginas ao vento em confissão
Luas de setembro, céus em minhas mãos
Nuvens em assombro e procissão
Luas que me lembram noites que virão
Abre-se a razão sobre a razão de ser
Como no instante de te ver
E eu vejo a vida vindo ao meu encontro
E vejo agora o que amanhã chegar
Eu tenho os olhos sobre o teu encanto
E tudo a desvendar
Os quatro cantos desse mundo
Eu tenho a febre feita de alcançar
E tenho a força bruta das palavras
Ditas para amar

Mágicos inventos de verão
Luz e movimento, tempo em prontidão
Chamas de um incêndio e mansidão
Noites que amanhecem dias que virão
Abre-se o clarão sobre a razão de ser
Como um milagre a percorrer
E eu tenho o sol guiando meu caminho
E tenho as senhas pra te conquistar
Eu tenho o norte sob o fio da espada
E cada dia a me esperar
Nos quatro cantos desse mundo
E tantos quantos tenha de alcançar
Eu tenho a sorte de viver cantando
E o céu a me ajudar


(Nei Lisboa)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Prazer em conhecer-me

Prazer em conhecer, eu!

Quem é você?

Logo vi o teu jeito alegre e descontraído. E como falas! Deves ter muitos amigos... Estás sempre rodeada de muitas pessoas.

Quanto esforço você faz, para ser melhor que você mesma.

Você adora tomar iniciativas, talvez por isso, às vezes seja um pouco autoritária, do tipo “general”.

Mas porque você se abala e fica triste por tão pouco? Não se preocupe, os últimos serão os primeiros.

Porque será que algumas vezes, de uma hora para outra fica tímida, como se a voz faltasse e não conseguisse dizer tudo o que pensa.

Você que não se deixa dominar pelas influências.

Você que se preocupa com o futuro.

Você que é assim, tão como eu...

Prazer em me conhecer, em reconhecer o que realmente sou.

Eu, em 29/09/2000

Será que ainda sou eu?

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Estranho

De repente estranho,
Estranhamente me estranho
E estranho espaços conhecidos
Que antes já foram tão meus
Os corredores agora me pressionam
As janelas, ainda que abertas, me fazem sufocar
Ficou tudo menor
Ou eu fiquei grande demais pra minha vida?
Como a escola onde estudei meus primeiros anos
Que parecia tão grande, tão gigante, tão imensa
E agora é um lugar onde não caibo mais
Aquele lugar que era tão meu,
Onde eu passava momentos, para mim importantes
Não me parece mais o mesmo
É estranho
Porque estranho a mim

Bianca Zanella
Em uma tarde linda e lenta...
26/08/2008

domingo, 24 de agosto de 2008

O último adeus do Los Hermanos

(texto publicado na revista Bizz, edição 215, julho de 2007. Autor: Ricardo Alexandre)
Nota: Apreciei muito a leitura deste texto, por isso o publiquei aqui para compartilhá-lo com mais pessoas. Nem sou fã de Los Hermanos, embora goste de algumas músicas deles que conheço (sim, inclusive Ana Júlia, mas não apenas Ana Júlia). Acho que vale pelo excelente trabalho crítico e jornalistíco de Ricardo Alexandre. Muito inspirador. Bianca

Como foram e o que significaram os três últimos shows do Los Hermanos antes de seu tão comentado "recesso por tempo indeterminado"
07/07/2008, 21:59 (atualizado em 08/07/2008 12:37)

Foi uma escolha óbvia, mas nem por isso menos que perfeita. A Fundição Progresso, ao lado das bibocas roqueiras da Lapa carioca, filha legítima do Circo Voador, era a mesma Fundição onde, em 1998, a banda tocou no cultuado festival Superdemo e onde gravou, anos depois, o clipe de "O Vencedor". Só na Fundição haveria tamanha concentração daquilo que se entende como público do Los Hermanos em forma, conteúdo e comportamento. Um massa de gente bastante jovem, mas com uma cara essencialmente universitária, educada. Os garotos todos tão barbados quanto sua idade permitisse, quase todos com aquelas camisas de gola semi-social de mangas curtas que até havia pouco era exclusividade dos cobradores de ônibus, as meninas como se estivessem recém-saídas de uma reunião no grêmio da PUC e todo mundo, TODO MUNDO, de All Star. Não são indies, não são mauricinhos, não é o público das feiras em que a banda tocava ao redor do Brasil e não seria o público do Canecão ou do Olympia. Mas é o público que a banda queria deixar gravado em sua retina, um público com cada verso dos quatro discos do Los Hermanos decoradíssimo, pronto para cantar bem alto, de olhinhos fechados, alternando bracinhos para o alto, com a palma da mão para cima, com bracinhos contritos, com as duas mãos juntas do coração. Três fornadas de 5 mil pessoas cada uma, que fizeram dos três shows de despedida um espetáculo cheio de simbolismo, como quase nunca se viu no Brasil.

Primeiro, e principalmente, porque no Brasil nenhuma banda acaba ou, melhor dizendo, se separa, já que oficialmente o grupo diz que se trata de um mero recesso por tempo indeterminado. No Brasil, as bandas se arrastam décadas a fio, com discos lançados apenas como pretexto para uma nova turnê, que rendem discos ao vivo cheios de hits de antigamente, que se alternam a acústicos, coletâneas e outras manobras de manutenção de marca. O Los Hermanos fez o que qualquer banda digna deveria fazer: cometeu um harakiri artístico antes que se transformasse em uma autoparódia, antes que lançasse um disco burocrático, antes que todo mundo se odiasse, ou que se mantivesse unida apenas pela grana. (Claro que nem todo mundo é tão íntegro assim, mas me deixe por enquanto lidar com as aparências para justificar minha teoria.)

E, depois, porque é um fecho irretocável para uma trajetória muito estranha, mas que, interrompida assim, no auge (e quem esteve lá, no meio daquela multidão de adoradores, não tem como não pensar em auge), ganha uma coerência imprevista. Imagine uma banda de colegas de faculdade que se juntou para fazer hardcore sub-Poindexter e que termina como queridinha da inteligência da música brasileira e manancial para cantoras de MPB; no meio do caminho, espaço para o sucesso de massa ("Anna Julia") e um fracasso de massa (o "Bloco do Eu Sozinho").

A se considerar esses descaminhos, a opção de promover a despedida na Fundição veio revestida de ainda mais significado como, afinal, cada um dos pequenos passos da banda até aqui. É a opção de falar com nossos fãs e mais ninguém opção altamente metida-a-besta, claro, como se eles não precisassem de mais ninguém além de seus fãs, mas que funciona bem à beça com eles.

Inicialmente, eram previstos dois shows por conta da decisão de entrar em recesso. Ambos foram anunciados em 23 de abril e marcados para o pós-feriado de Corpus Christi, dias 8 e 9 de junho. Quando o show de sábado teve as entradas esgotadas, foi anunciado um show extra, na quinta-feira, dia 7. No começo de junho, todos os três shows já estavam sold-out.

O frisson cresceu com a divulgação da notícia de que a banda havia ensaiado todas as músicas que fossem possíveis de tocar de seu repertório. Ou seja, para um grupo que gosta de cultivar o mito de que só escolhe seu set list pouco antes de cada show, era certo de que viriam três noites radicalmente diferentes umas das outras, com raridades para ser mastigadas com sabor pelos fãs. Muita gente comprou logo ingresso para as três apresentações, com grande concentração de fãs de outros estados na noite de sábado.

De fato, apesar dos cavalos-de-batalha posicionados nas três noites ("O Vencedor", "Todo Carnaval Tem Seu Fim", "Anna Julia", "O Vento"), os shows foram distintos entre si e muito diferentes da turnê do álbum "4", encerrada em dezembro no Morro da Urca. Não havia cenário, apenas uma enorme cortina de veludo preta, uma luz dura branca sobre os músicos e pequenas variações entre spots quentes e frios. E uma escuridão constante, poucos contrastes, algo que devia preocupar Nilson Primitivo, que cuidava do registro em vídeo dos shows.

Somos quem podemos ser

O que se viu nos primeiros segundos do show de sexta-feira foi simplesmente chocante. "Além do Que Se Vê", que raramente abria os shows, é um não-hit do álbum "Ventura" e não tem introdução instrumental. Há apenas a contagem dos compassos antes de surgir a voz de Marcelo Camelo, baixinha: "Moça, olha só o que eu te escrevi/É preciso força pra sonhar e perceber/Que a estrada vai além do que se vê". O barulho do entusiasmo pela entrada da banda no palco ainda não havia se dissipado quando o vocalista caminhou até o microfone e pronunciou a primeira sílaba da música: Mo..., sendo imediatamente engolido por um coral monstruoso de 5 mil jovens que urravam letra por letra com uma vivacidade de torcida uniformizada, antes de explodir em delírio durante o intermezzo instrumental inaudível. Eles explodiram NA PRIMEIRA SÍLABA! Qual a chance de uma cena dessas ocorrer fora daqueles limites? Nem no "Qual É a Música".

Nenhuma banda no Brasil pode usar tão adequadamente o termo fã quanto o Los Hermanos. Não dá nem para entender direito como se deu esse efeito. Recapitulemos: "Anna Julia", o primeiro hit do grupo, foi um case de dispersão. Virou hit de trio elétrico no Carnaval de 2002, foi regravada por Frank Aguiar, Mulekada, Jim Capaldi e Teodoro & Sampaio. Entretanto, me lembro bem do lançamento do "Bloco do Eu Sozinho" numa véspera de feriado de Natal em São Paulo, num Sesc Pompeia às moscas, num triste espetáculo de uma banda fraturada, assustada. Ali não havia fãs. Era, essencialmente o público de "Anna Julia " ou pelo menos os poucos infelizes que não haviam viajado para o Natal. Então, não venha me dizer que o disco difícil é que selecionou o público da banda. Não: de fato, alguns meses depois, o grupo, já barbado, tocou no pequeno Blen Blen, para um público menor ainda. Tinha "Traumas", do Roberto Carlos, no repertório, e uma banda incrivelmente renascida: confiante, unida, íntegra. Mas segurança não enche barriga. De novo, não tinha nada desse negócio de fã com mãozinha para o alto.

Olhando da área para convidados na Fundição Progresso, empoleirado algumas dezenas de metros acima do palco, como se fôssemos muito maiores do que a própria banda, algumas fichas começaram a cair. O som está tradicionalmente ruim (Amarante faz troça disso na segunda noite, inclusive) e só se ouve o que sai das caixas acústicas quando o público deixa, nas brechas instrumentais. Daí que, com o repertório de todas as fases em exposição como em um baralho sobre a mesa, fica exposto como banda foi abaixando o tom de voz de oitava em oitava até chegar ao sussurro das delicadas canções de "4". Canções preparadas para que o público levasse a banda no colo o que é muito diferente de audience participation, do tipo "agora é só vocês" ou do canto-e-resposta dos shows em estádios. Mas é esta a liga entre o universo indie onde eles surgiram e as várias, várias mesuras ao público lançadas por Camelo ("Vocês são foda", "Vocês são a razão disso tudo") que não fariam feio durante o Ivetão no Maraca.

Mas o público pede "Pierrot" e esgoela "O Velho e o Moço" como se não existisse Jovem Pan e MTV. E faz mosh com passinhos de Carnaval. E joga serpentina no palco e confete em si mesmo. O processo é obviamente fora do controle da banda então só restou entregar o manche para o público de vez. E há quatro caras lá no palco, mais olhando do que qualquer outra coisa. Caras magros, frágeis, com uns ternos não muito bem cortados. E o público cuidando deles. O que já desmonta as comparações com Renato Russo, que, do contrário, era metido a cuidar do mundo.

Aliás, a relação da banda com seu público lembra muito mais os Engenheiros do Hawaii. Como o trio gaúcho era odiado pela imprensa, Humberto inventou o que ele chamava de ligação direta com o público. Os hermanos não são odiados pela imprensa, mas têm se esforçado tanto em cultivar o mistério em torno de si e a espalhar a contra-informação que parece que o hobby dos caras é desconcertar e humilhar jornalistas. No show da Fundição, por exemplo, a nenhum cavaleiro da informação foi permitido acesso aos camarins, a nenhum fotógrafo foi permitido acesso ao fosso dos fotógrafos. Nenhuma entrevista foi concedida antes ou depois. "Nós nem fizemos nota oficial para a imprensa sobre o show", lembra o empresário da banda, Simon Fuller. "Apenas colocamos no site, que é nosso canal de comunicação com nossos fãs, porque era a eles que devíamos satisfação".

No Brasil, há esse estranho troféu almejado por boa parte dos artistas, o de nutrir a antipatia da imprensa. Camelo e Rodrigo Amarante estudaram jornalismo (o último, por certo tempo, fazia questão de constranger seus entrevistadores gravando ele próprio as entrevistas que concedia). Com o passar do tempo, seus fãs entenderam exatamente o mood, especialmente no serviço de marketing-viral em tempos de Youtube: espalharam três dos mais engraçados vídeos envolvendo uma banda nacional, todos registrando entrevistas da banda para jornalistas despreparados. Em um deles, a repórter brasiliense, após citar uma certa parceria do grupo com Elis Regina, apresenta Camelo como Marcelo Campelo. Em outra, Camelo/Campelo perde a paciência com os empolgados repórteres de bastidores do Ceará Music. E, num terceiro, Amarante passa uma lição de apuração a um repórter que insiste em perguntar sobre o incômodo provocado por "Anna Julia". Os comentários dos fãs não escondem o jogo: jornalistas idiotas, deprimente a condição de nossos repórteres etc.

Seja como for, a capacidade quase irritante que os quatro têm de dosar informação e contra-informação e, especialmente, sua saudável arrogância foram um oásis que reverteu em ainda mais atenção da mídia, aumentou o mistério em tempos tão devassados quanto os que vivemos e só fez aumentar seu status cult. Talvez seja uma das chaves para entender a relação da banda e seu público.

No caso de sua temporada de despedida, havia não só o boato das gravações para lançamento (solução do problema: os shows foram gravados em áudio e vídeo, mas por conta da banda; logo, não há previsão de lançamento comercial) como também o diz-que-diz da temporada em si. "E aí, a banda vai acabar mesmo? Por quê? Amarante brigou com Camelo? Camelo quer sair em carreira solo? E o que será do Barba?" O tecladista Bruno Medina ajudou na confusão, escrevendo em seu site coisas como "Não há como se preparar para um período quando o que fiz nos últimos dez anos não mais norteará minha rotina" e "Não é possível determinar um prazo para esse processo, porque, se fosse previsível, não seria de fato".

Tudo disso rendeu um efeito interessante: em nenhum momento durante os shows na Fundição, sequer se cogitou a formação de um clima de adeus. Foi realmente um até breve, em três noites emocionadas, mas revisionistas e felizes. E, como todos sabemos, não dizer o que se pensa já é pensar em dizer.

A lei da sinceridade

Anna Julia saiu em agosto de 1999, antecedendo o álbum "Los Hermanos". A banda tinha menos de dois anos e uma personalidade em formação. Surgida com a pretensão de integrar o circuito alternativo carioca hardcore, os hermanos se vestiam com ternos brancos tipo gafieira e chapéus panamá, cantavam canções falando de amor por influência do Bon Jovi e circulavam o imaginário do samba, falando de pierrots alcoólatras e de amor e folia. Uma das músicas mais tocadas daquele biênio, "Anna Julia" estabeleceu um certo padrão de rock barulhento que versava sobre amores adolescentes muito antes do emo ou do CPM22 e foi uma certa cruz para a banda. Por causa do sucesso popular, o então quinteto se viu diante de um público que não era o seu. ("Tocávamos para universitários e de repente começou a aparecer meninas de 10 anos nos shows", lembra o ex-baixista Patrick Laplan.) E por causa do sucesso, a próxima faixa de trabalho, o rockão "Quem Sabe", foi postergada, em favor de mais uma balada jovem-guardista, a quase redundante e hoje proscrita "Primavera".

Foram 300 mil cópias vendidas do álbum, o que deu liberdade para a banda produzir o disco seguinte sem sequer mostrá-lo à companhia. Os cinco sumiram em um sítio para compor o segundo disco, num processo tenso o suficiente para que Laplan saísse. "Bloco do Eu Sozinho" era tão bizarro em soluções de arranjo que nem o empresário da banda se aventurou a defendê-lo dentro da gravadora, que chamou o produtor Marcelo Sussekind para dar um trato no monstro. Em guerra com sua própria gravadora, os hermanos venderam bem menos (40 mil), tocaram muito menos (de 145 shows para 56) e foram encostados do mercadão. Se o disco acabou virando mito posterior, vale lembrar de uma brilhante crítica da Ilustrada, assinada por Pedro Alexandre Sanches, em que ele notava que se em seu disco de estréia esses garotos soavam constrangedoramente infantis, a volta com "Bloco do Eu Sozinho" causa desconforto em proporção talvez equivalente, porque nele querem a todo custo parecer bem mais adultos do que são.

Na casa dos 23 anos, os hermanos agora apareciam barbudos como se estivessem na The Band. Abandonavam totalmente o acento hardcore-pula-pula do início e faziam questão de, tanto quanto podiam, excluir "Anna Julia" do repertório. Passaram a ostentar o crachá de banda impraticável, suicida comercial e suas feridas seriam saradas por quem? Por seu grupo de fãs, que crescia lentamente, tanto quanto crescia o grupo de pessoas dispostas a entender por que cargas dágua alguém abriria mão de tocar "Anna Julia" com um trunfo desses no repertório. E toda vez que eram inquiridos sobre essa relação de amor-e-ódio com seu hit, enrolavam e não respondiam nada.

Desde então, "Anna Julia" só entra estrategicamente, o que sempre gera aquela boa tensão (Será que vai ter Anna Julia?), mas acabou voltando ao repertório no final da turnê do 4, quando, não por acaso, os shows ganharam contornos mais revisionistas. "Anna Julia" esteve em todos os três shows na Fundição Progresso. Foi tocada de um jeito que, longe de ser burocrático, era uma nítida concessão. Não uma concessão ao popular (curiosamente, as favoritas do público não eram as mais tocadas em rádio, mas as que o público conseguia cantar mais forte): o clima era "ok, todos sabemos que temos um clássico aqui e não podemos deixar de tocá-lo porque respeitamos a História da Música Brasileira". Você vai dizer que eles estão errados? Não estão. Mas há de ser dito que a graça de "Anna Julia" é movida por uma entrega, por uma sinceridade tola que não têm mais a ver com o Los Hermanos apenas com seus fãs.

Seria injusto usar do aspecto blasé da banda para atacá-la, até porque muito de seu charme reside ali. Alguns gostam de lembrar que Camelo não era exatamente um cérebro ambulante no tempo da faculdade para que se permita que ele hoje circule de gênio amargurado da MPB. Ou o quanto a banda significou para todos eles nos tempos de underground, antes que adotassem uma postura de indiferença programada. Os gurus marketeiros Al Ries e Jack Trout inventaram um nome pra isso. É a Lei da Sinceridade. Funciona assim: a propaganda ressalta um fator negativo do produto que quer vender (tipo Listerine, o gosto que você odeia duas vezes por dia ou Grape-nuts, um prazer a ser adquirido) e, em perspectiva, o consumidor imagina outro positivo. Em música, isso funciona que é uma beleza. Renato Russo era feio, então só podia ser inteligente. Marisa Monte não costuma ir ao Faustão, então é porque sua música se basta. Os Paralamas do Sucesso nunca deram bola para o visual, então, em perspectiva, eles são legítimos e honestos. O Los Hermanos é um bando de garotos enfeiados, não costumam ir ao Faustão e estão sempre com barba por fazer vestindo camisetas furadas. Logo, só podem ser a maior banda do Brasil.

A um passo da MPB

E durante aqueles três shows, não havia maior banda no Brasil. E pensando bem, quem consegue arrastar 5 mil pessoas para cantar "Hallelujah" (na versão de Jeff Buckley) durante o som mecânico, tem mesmo algo de especial. O Los Hermanos inventou sozinho o college rock brasileiro, com acento próprio e uma ligação efetiva com o público universitário daqui. Mombojó, Moptop, Violins, Monno, Ludov, todos devem certo tributo aos cariocas. E desde o dia 10, quando o tal recesso entrou em vigor, também essa trajetória fica incorruptível, a salvo de qualquer mudança de humor do mercado e, claro, a salvo dos próprios integrantes da banda.

O boato de separação já se espalhava desde o início de 2006, quando "Condicional" foi eleita faixa de trabalho, sucedendo "O Vento", ambas de autoria de Rodrigo Amarante. O ruivo estaria deixando a posição de vice-cara para pleitear o papel de maior destaque, até então na mão de Marcelo Camelo. Este, por sua vez, estaria cada vez mais seduzido pela carreira solo e cada vez menos interessado na banda. O lançamento da coletânea "Perfil", em outubro, parecia colocar um ponto final na carreira (na verdade, o disco foi uma sugestão da Som Livre, não do grupo). Em maio, quando começariam os ensaios para a gravação do quinto disco, não chegou a surpreender a nota no site oficial, dando conta do recesso. Amarante, Camelo, Barba e Bruno simplesmente decidiram parar, antes dos ensaios. Imagine como o mundo seria melhor se todas as bandas preferissem o silêncio a um disco sem inspiração.

E há a boa e velha especulação. Camelo diz que seu objetivo é descansar, após dez anos de trabalho intenso. Entretanto, a nota do site fala em necessidade dos integrantes de se dedicarem a outras atividades. E o sucesso ou fracasso dessas quatro carreiras são fundamentais para decidir se o recesso é temporário ou definitivo.

Quem sai na frente na vida fora dos hermanos é Rodrigo Amarante. O primeiro álbum da Orquestra Imperial, da qual faz parte ao lado de outros 18 figuras do universo artístico carioca, já deve estar nas lojas quando você ler estas linhas. "Carnaval Só Ano Que Vem" abre com uma composição de Amarante, "O Mar e o Ar", escrita em parceria com Domenico Lancelotti e Kassin. Segundo se comenta por aí, o ruivo deve participar do próximo disco de Devendra Banhart a quem teria convidado para produzir a própria estréia solo.

Amarante tem o benefício da leveza. Já Camelo, que foi catapultado à categoria de compositor sério em 2003, quando foi escolhido para rechear a estréia de Maria Rita com três composições, terá um trabalhinho e tanto para manter-se com os pés na terra. Camelo levou o Los Hermanos a ocupar um papel que, nos anos 80, foi dos Titãs: o do jovens roqueiros inteligentes, com direito a transitar entre o rock e a MPB. Acabou virando compositor requisitado por Roberta Sá, Bebeto Castilho, Virgínia Rosa, Fernanda Porto e pela própria Maria Rita em seu segundo disco. Camelo compôs para o filme O Casamento de Romeu e Julieta, virou chapa da Paula Lavigne e os Hermanos espalhavam suas barbas para territórios como Odair José e Caetano Veloso.

E o primeiro registro de Camelo pós-recesso já causou controvérsia. É a participação no "Acústico MTV" da dupla Sandy & Junior, que sai em agosto. O hermano participa de "As Quatro Estações". Típica atitude MPB: a inteligência dignifica o popular, como fez Caetano com Peninha ou Adriana Calcanhotto com Buchecha. Some-se a isso a declaração do produtor Kassin a O Globo, dizendo que Camelo tem vontade de fazer um disco inteiro só com violão de nylon e acende-se a luz amarela. Lembrou-me aquele disco do Falcão, "A um Passo da MPB", em que o brega cearense aparece de muletas na capa.

Se "Ventura", o teceiro disco da banda (de 2003), conseguiu abrasileirar e modernizar a receita, "4" (de 2005) foi recebido com horror pelos roqueiros mais ortodoxos. Amarante caetanizou; Camelo bethanizou e daí pra baixo. Se vendeu e tocou pouco, foi mais um desafio que o público fanático encarou com alegria (a abertura de sábado, com a barroca "Dois Barcos" foi tão ovacionada quanto, digamos, "O Vencedor" na quinta-feira). Era a grande questão musical a ser resolvida no quinto trabalho da banda.

Talvez essa questão não seja resolvida nunca e talvez seja melhor assim. Porque daqui a pouco a arrogância rocknroll da banda se transformaria em simples prima-donismo, as aventuras pela MPB se transformariam em caretice, as melodias tortuosas se transformariam em uma fórmula e, o maior de todos os perigos, essa importância fundamental que eles têm na vida de seu público se transformaria em mais um tesouro da juventude, perdido junto com os episódios de "The O.C". com Jeff Buckley na trilha.

Por hora, basta imaginar que Barba, Amarante, Camelo e Bruno fizeram tudo o que fizeram durante os dez anos mais ingratos para quem lida com música, em meio a desmoronamentos de mercado e mercantilização da rebeldia, em meio a novas tecnologias e a disseminação de que atitude é um item que se compra na loja de streetwear. Todo esse rebuliço que causaram é mesmo de tirar o chapéu. Acabou, é hora de viver.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


(Eugénio de Andrade)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um blues pra você chorar

Pediu pra eu esquecer
Pega e some de vez
Sem saber que assim era pior
Tá certo que eu pisei na bola
Tudo bem
Mas o teu amor não é esmola
Pra quem te trata bem
Tua vida virtual, só te deixou na mão
O teu amor não é normal, ele é ponto com

Não pense que eu fiquei triste
Pensando em te ligar
Eu preferi fazer...

Um Blues pra você chorar um poquinho por mim


(Canastra Suja)

domingo, 17 de agosto de 2008

Love you 'till the end

I just want to see you
When you're all alone
I just want to catch you if I can
I just want to be there
When the morning light explodes
On your face it radiates
I can't escape
I love you 'till the end

I just want to tell you nothing
You don't want to hear
All I want is for you to say
Why don't you just take me
Where I've never been before
I know you want to hear me
Catch my breath
I love you 'till the end

I just want to be there
When we're caught in the rain
I just want to see you laugh not cry
I just want to feel you
When the night puts on its cloak
I'm lost for words don't tell me
Cuz all I can say
I love you 'till the end


(The Pogues, P.S. I love you)

sábado, 9 de agosto de 2008

Sim, eu converso com estranhos

Depois de perceber que muitas vezes sou estranha a mim mesma eu passei a ignorar o conselho de “não falar com estranhos”. E quando eu falo em estranho, não me refiro à conotação de “desconhecido”, mas ao que é realmente estranho.


Sábado de plantão no jornal, duas matérias e uma monografia inteira a ser feita para a faculdade e eu só tenho inspiração para escrever crônicas... Essa eu pensei enquanto estava na rua, ainda, e vim pra casa mais rápido para não esquecer. Cheguei, soltei rapidamente as compras da padaria (meu estoque de calorias para o final de semana), liguei o notebook e escrevi... assim... sem parar. Ah, se a monografia fosse assim...


Hoje quando voltava para casa, triste como normalmente volto nos dias solitários, fui surpreendida por uma voz atrás de mim que cantava: Ever breath you take...

Não, eu não achei que fosse pra mim. Mas podia ser. De qualquer modo aquilo era incomum e involuntariamente fui levada a olhar para trás enquanto caminhava por uma das ruas retas recentemente asfaltadas de Satolep.

Ali eu vi a origem dos versos: um rapaz cabeludo, sobretudo preto, violão nas costas. Ele era um estranho e a partir daquele momento se tornara um estranho-conhecido-meu em potencial, o que veio a se confirmar instantes depois.


Como andava mais rápido, passou por mim na calçada e ao passar não parou de cantar, apenas baixou o tom. A passos largos ganhou distância, mas uma sinaleira aberta na esquina seguinte foi a responsável por nosso imediato reencontro. Quando me aproximei ele encerrou a música, e para acabar com o constrangimento eu tomei a iniciativa de quebrar o silêncio. “Bom saber que eu não sou a única louca que ando cantando por aí”, falei rindo, ao constatar que tínhamos algo em comum, embora com uma diferença: ele cantava bem, e eu sou totalmente desafinada.


O fato de perceber isso não fez com que eu sentisse nenhuma atração por ele. Eu não sinto atração por todos os estranhos que conheço. Sinto apenas vontade de conhecê-los. Já diria aquele velho ditado... eu não estava "dando em cima", nem ele aliás, só estava sendo legal...


Ele me disse que ia tocar hoje à noite em uma pizzaria, somente repertório dos anos 60, 70 e 80, e por isso estava aproveitando o tempo de deslocamento para ensaiar. Contou-me também dos agudos necessários em algumas músicas, falou rapidamente – e de modo muito excêntrico – sobre as coisas mais fantásticas do universo musical do final do século passado.


Três quadras adiante eu mudei de direção e ele continuou, logo após se apresentar e me convidar para ir, à noite, ver o show na pizzaria. Como era mesmo o nome dele? Luciano? Elvis?


Não vou ao show, vou trabalhar hoje à noite, e, quem sabe, ler alguma coisa para a minha monografia.


Esse é mais um tributo aos estranhos que conheço por aí, e que talvez nunca mais volte a encontrar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Volta às aulas...



A coisa que eu mais gosto de retornar às aulas é... caderno novo! :-)

domingo, 13 de julho de 2008

Vinte e um

Amadurecer não é fácil,
Mentiu quem disse que era.
Crescer dói, uma dor de saudade e solidão.
Aniversário é sempre uma síntese de tristeza e alegria...

Tenho sorte.
Agradeço a vida por ter amigos
meus pais por perto (nem tão perto quanto eu gostaria)
meus irmãos...

Mas no fundo, resta aquele sentimento
de estar só, de ser só, de viver só.

Comemorar aniversário é celebrar a vida,
Saborear todos os seus temperos...
Hoje é dia de festa.

Gracias a la vida...

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto

Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida


(Mercedes Sosa)

sábado, 12 de julho de 2008

Não vou me adaptar

Eu não caibo mais
Nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais
A casa de alegria
Os anos se passaram
Enquanto eu dormia
E quem eu queria bem
Me esquecia...

Será que eu falei
O que ninguém ouvia?
Será que eu escutei
O que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...

Eu não tenho mais
A cara que eu tinha
No espelho essa cara
Não é minha
Mas é que quando
Eu me toquei
Achei tão estranho
A minha barba estava
Desse tamanho...

Será que eu falei
O que ninguém ouvia?
Será que eu escutei
O que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar
Me adaptar...

Não vou!
Me adaptar! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!
Não vou! Me adaptar!...



(Titãs / Arnaldo Antunes)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

I want to break free

I want to break free
I want to break free
I want to break free from your lies
You're so self satisfied I don't need you
I've got to break free
God knows, God knows I want to break free.

I've fallen in love
I've fallen in love for the first time
And this time I know it's for real
I've fallen in love, yeah
God knows, God knows I've fallen in love.

It's strange but it's true
I can't get over the way you love me like you do
But I have to be sure
When I walk out that door
Oh how I want to be free, baby
Oh how I want to be free,
Oh how I want to break free.

But life still goes on
I can't get used to, living without, living without,
Living without you by my side
I don't want to live alone, hey
God knows, got to make it on my own
So baby can't you see
I've got to break free.

I've got to break free
I want to break free, yeah
I want, I want, I want, I want to break free.


(Queen/John Deacon)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Rotina

A idéia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o fato
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é o rock
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do queijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza
Toda rotina tem a sua beleza.


(Autor desconhecido)

terça-feira, 1 de julho de 2008

O Muro (Pra poesia me fazer voar)

O muro imposto a minha infância livre
Me fez cativo no viver liberto
Prendendo os sonhos que em guri eu tive
Tornando longe o que morava perto

(Eu tinha o mundo no quintal da casa
Angico, salsos e melões maduros
Só me faltava ter um par de asas
Para ter coragem de transpor o muro)

Agora eu sei que tinha um céu aberto
E que no pátio era mais liberto
(Pois era livre pois saber sonhar)
E quem diria que no meu futuro
Todo passado pularia o muro
(Para a poesia me fazer voar)


(Jairo Lambari Fernandes)