sábado, 9 de agosto de 2008

Sim, eu converso com estranhos

Depois de perceber que muitas vezes sou estranha a mim mesma eu passei a ignorar o conselho de “não falar com estranhos”. E quando eu falo em estranho, não me refiro à conotação de “desconhecido”, mas ao que é realmente estranho.


Sábado de plantão no jornal, duas matérias e uma monografia inteira a ser feita para a faculdade e eu só tenho inspiração para escrever crônicas... Essa eu pensei enquanto estava na rua, ainda, e vim pra casa mais rápido para não esquecer. Cheguei, soltei rapidamente as compras da padaria (meu estoque de calorias para o final de semana), liguei o notebook e escrevi... assim... sem parar. Ah, se a monografia fosse assim...


Hoje quando voltava para casa, triste como normalmente volto nos dias solitários, fui surpreendida por uma voz atrás de mim que cantava: Ever breath you take...

Não, eu não achei que fosse pra mim. Mas podia ser. De qualquer modo aquilo era incomum e involuntariamente fui levada a olhar para trás enquanto caminhava por uma das ruas retas recentemente asfaltadas de Satolep.

Ali eu vi a origem dos versos: um rapaz cabeludo, sobretudo preto, violão nas costas. Ele era um estranho e a partir daquele momento se tornara um estranho-conhecido-meu em potencial, o que veio a se confirmar instantes depois.


Como andava mais rápido, passou por mim na calçada e ao passar não parou de cantar, apenas baixou o tom. A passos largos ganhou distância, mas uma sinaleira aberta na esquina seguinte foi a responsável por nosso imediato reencontro. Quando me aproximei ele encerrou a música, e para acabar com o constrangimento eu tomei a iniciativa de quebrar o silêncio. “Bom saber que eu não sou a única louca que ando cantando por aí”, falei rindo, ao constatar que tínhamos algo em comum, embora com uma diferença: ele cantava bem, e eu sou totalmente desafinada.


O fato de perceber isso não fez com que eu sentisse nenhuma atração por ele. Eu não sinto atração por todos os estranhos que conheço. Sinto apenas vontade de conhecê-los. Já diria aquele velho ditado... eu não estava "dando em cima", nem ele aliás, só estava sendo legal...


Ele me disse que ia tocar hoje à noite em uma pizzaria, somente repertório dos anos 60, 70 e 80, e por isso estava aproveitando o tempo de deslocamento para ensaiar. Contou-me também dos agudos necessários em algumas músicas, falou rapidamente – e de modo muito excêntrico – sobre as coisas mais fantásticas do universo musical do final do século passado.


Três quadras adiante eu mudei de direção e ele continuou, logo após se apresentar e me convidar para ir, à noite, ver o show na pizzaria. Como era mesmo o nome dele? Luciano? Elvis?


Não vou ao show, vou trabalhar hoje à noite, e, quem sabe, ler alguma coisa para a minha monografia.


Esse é mais um tributo aos estranhos que conheço por aí, e que talvez nunca mais volte a encontrar.

Um comentário:

Karina Peres disse...

Mas se um dia tu quiseres conhecê-lo, eu apresento vcs. O Élvis faz as melhores imitações de Silvio Santos e Cara-das-Casas-Bahia ever.