sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Jornais

Quantos filhos esperaram a chegada de seus pais
Tantos deles não vieram Não chegaram nunca
A calçada não é casa, não é lar Não é nada
Nada mais do que um caminho que se passa
Tão estranho pra quem fica... pra quem fica
As palavras no asfalto, nessa vida são tão duras
O carinho não consola mas apenas alivia
A calçada não é cama Não é berço Não é nada
Nada mais nos faz humanos sem afeto
E o medo é um abraço tão distante de quem fica

Onde vai? Nós estamos de passagem
Onde vai? Onde a rua nos abriga
Onde vai? Estamos sempre de partida
Onde vai? Onde a rua nos abriga desse frio

As pessoas que se enrolam nos jornais não são mais notícia
Elas não esperam de um papel de duas cores mais que um pouco decalor
A calçada não é pai Não é mãe Não é nada
Nada mais do que um abrigo, um refúgio
Tão estranho pra quem passa... Pra quem passa


(Thedy Corrêa)

domingo, 21 de setembro de 2008

Casa

Casa, para mim, tem janela aberta por onde entra o sol.
tem cheiro de café passado,
e mate quente de manhã cedo.
(e depois do almoço, e à tardinha, e de noite).
tem um pouco de coisas espalhadas por todos os lados, em uma bagunça que todos os dias se arruma e se refaz.
tem muita coisa nas paredes, tem muita recordação de vida vivida.
tem muita coisa que a um primeiro olhar não combina com nada, e nenhuma mão de decorador seria capaz de fazer.
tem cheiro de incenso de baunilha.
e tem o tamanho exato para caber em uma mochila e levar nas costas por onde quer que eu vá.

(Ascendente em Câncer, Lua em Sargitário - Isabel Nogueira)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A pedidos... Bernadete!

Não sei porque
Fui casar com Bernadete
Essa mulher
Gruda em mim
Que nem chiclete
Eu contratei
Os serviços de um pivete
Para matá-la
A golpes de canivete
Se não morrer,
Retalha ela com gilete
Ela foi para o hospital
O nariz e um olho
Ela perdeu
Mas não sei como é que pode
A desgraçada não morreu

Ai! Jesus que maldição
Essa tal de Bernadete
Ela só tem uma vida
Mas parece que tem sete

Eu percebi
Que outro nisso
Não se mete
Assim que deu
A esmaguei com meu Chevette
E aluguei
Apartamento em um flat
Comprei champanhe
Bebi inteiro (?)
Agora sim ela virou um omelete
O outro olho
Os braço e as perna ela perdeu
Mas a maldita criatura
De novo sobreviveu

Ai! Jesus ....

(3° e último ato)
Envenenei
O seu prato de espaguete
Pus querosene
Em seu molho vinagrete
E enfiei
No seu ouvido um cotonete
Cheio de ácido
Pra ver se o cérebro derrete
Então fugi (?)
Em minha mobilete
Bastou uma operação
E uma lavagem estomacal
E então me convenci
De que esta praga é imortal

Ai Jesus ...


(Guilherme Bulla)


P.S.: Tem algumas partes da letra (?) que não consegui identificar apenas ouvindo a música. Se alguém souber as palavras que completam os versos, ou se houver alguma correção a fazer, por favor, envie um comentário!

P.S.2: Pra ti, maninho! hehehehe

P.S.3: Veja o vídeo aqui!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Meu mundo e nada mais

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...


(Guilherme Arantes)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Clichê

Luz e sorriso, doce de amor
Musa do meu feitiço
Como te explicar?
Caso perdido, raso clichê
Sangue do meu suplício
Quem vai te entender?
Corres da minha porta
Somes da minha rua
Mas estás sempre pronta pra mim
Juras que não suportas
Cospes na minha cara
Mas estás sempre nua no fim

Dona da vida, tudo de bom
Dom do meu paraíso
Como te perder?
Bruxa cambota, bicho do mal
Eu que invoquei teu vício
Quem vai te curar?
Corres da minha porta
Somes da minha rua
Mas estás sempre pronta pra mim
Juras que não suportas
Cospes na minha cara
Mas estás sempre nua no fim


(Nei Lisboa)

Sobre eu e você (efeitos colaterais)

De novo eu, de novo você
É estranho e engraçado como as coisas acontecem entre nós
Você pediu que eu fizesse os textos das fotos
Pois então aqui vai um comentário sobre o nosso auto-retrato

Você me diz tantas coisas
E a maioria delas eu já sei
Sim, é insano eu não prestar atenção
Nos efeitos colaterais dessas sensações que você me faz experimentar
Mas é que isso já faz parte de mim há tanto tempo
Que eu acho que nem saberia mais viver sem

Você é tão bom
E não me dá motivos pra te odiar
Motivos pra me afastar
Motivos pra não te querer
Sua verdade não é a que eu queria ouvir
Mas é tão sincera que eu insisto em duvidar
E acredito que é apenas uma confusão
Porque é isso que me faz esperar que um dia
Possa mudar de idéia

Eu só quero que saiba
Que se me arrisco tanto
É porque eu quero que saiba
Que tudo o que eu queria era ser a pessoa
Ao lado de quem você desejasse acordar
Não posso evitar sentir raiva de quem conseguiu isso
e não soube aproveitar
Não posso evitar querer encontrar as senhas
Que eu não tenho pra te conquistar
E apesar de todas as coisas que eu sou capaz e faço bem
- Qualidades que você faz questão de enumerar
Pra dizer que eu mereço "alguém melhor" -
O que me faz sentir pior é a falta de uma só:
É não ser capaz de fazer você gostar de mim
Como eu gosto

P.S.: não precisa ter medo de mim e nem do que eu escrevo. Primeiro porque vou procurar não fazer mais "isso", segundo porque escrever é o que eu faço de melhor, segundo você mesmo...

domingo, 7 de setembro de 2008

Um homem chamado Alfredo

O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Abriu o gás, o coitado
O último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação

Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar
Quase nada
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada

Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom
Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê


(Vinicius de Moraes / Toquinho)