quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Color Esperanza

Sé que hay en tus ojos con solo mirar
que estas cansado de andar y de andar
y caminar girando siempre en un lugar

Sé que las ventanas se pueden abrir
cambiar el aire depende de ti
te ayudara vale la pena una vez más

Saber que se puede querer que se pueda
quitarse los miedos sacarlos afuera
pintarse la cara color esperanza
tentar al futuro con el corazón

Es mejor perderse que nunca embarcar
mejor tentarse a dejar de intentar
aunque ya ves que no es tan fácil empezar

Sé que lo imposible se puede lograr
que la tristeza algún día se irá
y así será la vida cambia y cambiará

Sentirás que el alma vuela
por cantar una vez más

Vale más poder brillar
Que solo buscar ver el sol


(Diego Torres)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Vende Frango-se

Vende frango-se – Martha Medeiros

Alguém encontrou esta pérola escrita numa placa em frente a um mercadinho de um morro do Rio: "Vende frango-se". É poesia? Piada? Apenas mais um erro de português? É a vida e ela é inventiva. Eu, que estou sempre correndo atrás de algum assunto para comentar, pensei: isto dá samba, dá letra, dá crônica. Vende frango-se, compra casa-se, conserta sapato-se.

Prefiro isso aos "q tc cmg?" espalhados pelo mundo virtual, prefiro a ingenuidade de um comerciante se comunicando do jeito que sabe, é o "beija eu" dele, o "que vim aqui casa?" de tantos.

Vende carne-se, vende carro-se, vende geléia-se. Não incentivo a ignorância, apenas concedo um olhar mais adocicado ao que é estranho a tanta gente, o nosso idioma. Tão poucos estudam, tão poucos lêem, queremos o quê? Ao menos trabalham, negociam, vendem frangos, ao menos alguns compram e comem e os dias seguem, não importa a localização do sujeito indeterminado. Vive-se.

Talvez eu tenha é ficado agradecida por este senhor ou senhora que anunciou-se de forma errônea, porém inocente, já que é do meu feitio também trocar algumas coisas de lugar, e nem por isso mereço chicotadas, ao contrário: o comerciante do morro me incentivou a me perdoar. Esquecer o nome de um conhecido, não reconhecer uma voz ao telefone, chamar Gustavos de Olavos, confundir os verbos e embaralhar-se toda para falar: sou a rainha das gafes, dos tropeços involuntários. Tento transformar em folclore, já que falta de educação não é. Conserta destrambelhada-se. Eu me ofereço pro serviço. Quem não? Sabemos todos como é constrangedor não acertar, mas lá do alto do seu boteco, ele nos absolve. Ele, o autor de um absurdo, mas um absurdo muito delicado.

Vende frango-se, e eu acho graça é uma coisa boa, sinal de que ainda não estamos tão secos, rudes e patrulheiros, ainda temos grandeza para promover o erro alheio a uma inesperada recriação da gramática, fica eleito o dono da placa o Guimarães Rosa do morro, vale o que está escrito, e do jeito que está escrito, uma vez que entender, todos entenderam. Fica aqui minha homenagem à imperfeição.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pichamento

No brilho dos olhos,
a palavra que a boca
não deixou sair.

Na postura relaxada,
o grito contido.

No barulho do dia,
o silêncio do grito
que à noite será escrita
nos muros da cidade.

(Luiz Teixeira Neto)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um pensamento

"Eis a fórmula da felicidade:
um sim, um não, uma linha reta, uma meta..."


(Autor Desconhecido)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

"Não me deixe viver o que posso,
que me seja permitido
desaprender os limites."

Fabrício Carpinejar

Olhos de raposa

Vicente cola seus olhos nos meus. Como uma luneta.
O nariz frio é a ponta de seu dedo me reconhecendo.
Com os rostos próximos, diz que tenho olhos de raposa. Enxerga uma raposa correndo de noite.
- Já viu antes uma raposa?
- Não, não preciso ver para saber como ela é.
O amor é mesmo uma cegueira, desde que não se perca os ouvidos e a boca.
Eu já sinto saudade dele mesmo quando estamos juntos. É uma falta antecipada.
Ele não me entende. Busco explicar saudade para suas pupilas paradas de caçador.

Saudade é não rasgar os selos das cartas na hora de abrir. Umedecê-los com o vapor da chaleira.
Saudade, meu filho, é dormir com dois travesseiros para o corpo não doer pelo excesso da cama.
Saudade é arrumar a mesa quando não jantaremos em casa.
Saudade é esperar a ligação do avô que já morreu.
Saudade é não jogar fora as meias que se desencontraram do seu par.
Saudade é não organizar a bolsa ainda que não se encontre mais nada nela.
Saudade é um poço artesiano coberto por uma tábua.
Saudade é uma parede que descascou tangerinas.
Saudade é errar o caminho quando se vai ao trabalho.
Saudade é quando a gente esconde uma lembrança dentro de uma música. E a música dentro de uma lembrança.
Saudade é adivinhar o tamanho do pátio pelo varal.
Saudade é desamassar as roupas com as unhas.
Saudade é tomar banho no escuro.
Saudade é uma residência de verão com lareira.
Saudade é abrir seu diário antigo e pedir ajuda para entender a letra.
Saudade é um avental com as iniciais bordadas.
Saudade é uma boina com cheiro de funcho.
Saudade é pisar descalço na memória com medo de roseta.
Saudade é lembrar do que que poderia ter acontecido antes de acontecer.
Saudade é imitar o assobio de uma porta.
Saudade é fechar o livro para que ele se abrace.
Saudade é procurar o que não foi extraviado.
Saudade é esquecer o que se falou com Deus.
Saudade é saber a importância do que nunca se teve.
Saudade é reconhecer um amigo da infância no filho.
Saudade é sentar na escadaria de uma igreja só para suspirar os degraus que faltam.
Saudade é parar diante de um mendigo com as mãos vazias.
Saudade é lavar os cabelos do violão.
Saudade é usar o cadarço para costurar duas ruas.
Saudade é escrever o que se precisa ler.

Ao entrar em seu quarto no dia seguinte, escuto sua conversa com a irmã Mariana. Ela o incomodava com tapinhas nos ombros e o enervava com apelidos.
- Quando está longe, só penso coisas boas de você, Mariana. Não estraga a minha saudade.


(Fabrício Carpinejar)
Mais em http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br

Família vende tudo

família vende tudo
um avô com muito uso
um limoeiro
um cachorro cego de um olho
família vende tudo
por bem pouco dinheiro
um sofá de três lugares
três molduras circulares
família vende tudo
um pai engravatado
depois desempregado
e uma mãe cada vez mais gorda
do seu lado
família vende tudo
um número de telefone
tantas vezes cortado
um carrinho de supermercado
família vende tudo
uma empregada batista
uma prima surrealista
uma ascendência italiana & golpista
família vende tudo
trinta carcaças de peru (do natal)
e a fitinha que amarraram no pé do júnior
no hospital
família vende tudo
as crianças se formaram
o pai faliu
deve grana para o banco do brasil
vai ser uma grande desova
a casa era do avô
mas o avô tá com o pé na cova
família vende tudo
então já viu
no fim dá quinhentos contos
pra cada um
o júnior vai reformar a piscina
o pai vai abrir um negócio escuso
e pagar a vila alpina
pro seu pai com muito uso
família vende tudo
preços abaixo do mercado


(Angélica Freitas)
Mais em: Tome uma xícara de chá